Eleição

ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO
As idéias estreitamente relacionadas de eleição
e predestinação são elementos decisivos na estrutura
teológica do pensamento paulino. Se ele
não as desenvolve em nenhum lugar como tema
e nem mesmo usa as palavras com freqüência,
é porque elas faziam parte da própria estrutura
de seu pensamento. Quando ocorrem, estão profundamente
mergulhadas em argumentos teológicos
altamente complexos, como dados teológicos
incontestáveis, ligados a outras dessas idéias
fundamentais (e.g., chamado, desígnio, vontade,
deliberação). Em Paulo, esses termos são usados
primordialmente como idéias redentoras,
mas há indícios de que se estendiam mais.
1. O Deus de eleição e seu desígnio
2. A eleição de Deus
3. A predestinação de Deus
4. Relato resumido de eleição e predestinação
5. Considerações finais quanto a eleição e
predestinação
1. O Deus de eleição e seu desígnio
O entendimento da doutrina paulina de eleição
e predestinação precisa começar com a doutrina
de Deus*, porque é Deus quem elege, chama,
designa e predestina. Deus — e é preciso
entender que para Paulo essa palavra abrange
Pai, Filho e Espírito — é o centro de seu pensamento,
não como idéia abstrata que lhe veio depois
de muita especulação, mas como a Realidade
Suprema do Universo. Tudo que Paulo diz
relaciona-se a sua idéia e experiência de Deus.
Contudo, a teologia de Paulo não era praticada
em um vazio, mas alcançou expressão nos contatos
pastorais com suas congregações. Elas,
por sua vez, viviam em um mundo influenciado
pela descrença e a incerteza quanto ao sentido
da vida e à capacidade dos deuses de controlar
o mal e responder a perguntas a respeito
do destino humano (ver Culto; Religiões).
Em teoria, então, a fim de entender eleição
e predestinação precisamos entender tudo que
Paulo disse a respeito de Deus, porque foi Deus
quem elegeu e predestinou. Entretanto, para os
propósitos atuais, só vamos considerar dois aspectos
da existência de Deus — as qualidades
de Deus que se relacionam diretamente a ele como
aquele que elege e as que se relacionam a
ele como aquele que planeja ou designa.
1.1. As qualidades de Deus relacionadas à
eleição. As qualidades de Deus que percebemos
estar relacionadas à eleição são seu amor* (Ef
1,4-5; lTs 1,4), sua misericórdia* (Rm 9,16),
sua graça* (Rm 11,5), sua sabedoria* e seu conhecimento*
(Rm 11,33, “ciência”). Para Paulo,
o Deus da eleição é o Deus de amor e misericórdia
que age graciosa e sabiamente. Isso é o bastante
para silenciar quem quer que imagine que
Deus é arbitrário e escolhe sem nenhum fundamento,
mas Paulo vai além.
1.2. O plano do Deus de eleição. A eleição
divina faz parte de um plano ou desígnio abrangente,
o que significa não haver, em absoluto,
nada arbitrário quanto a ela. Deus tem um desígnio
que foi elaborado de acordo com seu
amor, misericórdia e graça, que era criterioso
além da imaginação e que deve se realizar por
meio de eleição e predestinação. Eleição e predestinação
não são fins em si mesmos, mas
meios para um fim, caminhos práticos para realizar
a vontade de Deus. Assim, o Deus de misericórdia
e amor elaborou um plano gracioso tirado
das profundezas de si mesmo, com base em
sua eterna sabedoria, que ele realiza em tempo
por meio de eleição e predestinação.
1.3. O plano de Deus e a redenção. Paulo
não desenvolve em nenhum lugar toda a amplitude
do que quer dizer com desígnio ou plano
de Deus, mas, sem dúvida, esse desígnio abrangia
todos os contatos de Deus com a ordem
ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO
ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO
criada. Entretanto, Paulo desenvolve realmente
seu aspecto redentor. Deus opera tudo de acordo
com a deliberação de sua vontade e sua vontade
ou desígnio é de redenção. Conseqüentemente,
de acordo com esse desígnio, ele chama (Rm
8,28), faz tudo concorrer para o bem dos que
ele chamou (Rm 8,28), predestina os que estão
em Cristo (Ef 1,11; ver Em Cristo), elege (Rm
9,11) e dá a conhecer sua múltipla sabedoria
por meio da Igreja (Ef 3,11). Esse desígnio de
Deus é inescrutável, “pois quem conheceu o
pensamento do Senhor?” (ICor 2,16; Rm 11,3335,
citando Is 40,13, LXX) e, embora seja impossível
descobrir os caminhos de Deus, que
contêm um mistério* supremo, não ficamos totalmente
no escuro. O Espírito (ver Espírito
Santo) tudo sonda, até as profundezas de Deus
(ICor 2,10-11), exatamente como Deus perscruta
os corações de todos os seres humanos (Rm
8,27) e revelou essas coisas aos fiéis pelo Espírito
(ICor 2,10.12). Cristo também conhece o
pensamento de Deus e os fiéis têm o pensamento
de Cristo (ICor 2,16). Assim, embora o
pensamento, a vontade e o desígnio de Deus
sejam mistérios divinos e eternos, foi desígnio
de Deus tomar isso conhecido em toda a sua
múltipla sabedoria, até onde é possível conhecêlo
graças à Igreja, que é o corpo de Cristo (Ef
3,11; ver Corpo de Cristo).
2. A eleição de Deus
2.1. O vocabulário de eleição. Quando fala de
eleição, Paulo emprega três termos cognatos: o
verbo eklegomai, o substantivo eklogè e o adjetivo
eklektos. Paulo emprega o verbo eklegomai
quatro vezes (ICor 1,27 [2],28; Ef 1,4). Esse
verbo se encontra com freqüência no grego clássico,
com o sentido básico na voz ativa de “eleger”
ou “escolher” (Xenofonte, Hist. Gr. 1,6,19;
Platão, Rep. 535a; Leg. 811a).
Na voz passiva, significa “escolher para si
mesmo” ou “eleger” e se encontra com menos
freqüência nessa voz no grego clássico (Platão
Ate. l,121e), mas quase exclusivamente assim
na LXX. No NT, só se encontra na voz passiva.
Paulo emprega o substantivo eklogê cinco
vezes (Rm 9,11; 11,5.7.28; lTs 1,4; alhures no
NT só aparece em At 9,15 e 2Pd 1,10). O sentido
básico de eklogè é “escolha” ou “eleição”
e, no grego secular, a palavra tem muitas nuanças
de sentido, inclusive “equilibrar uma conta”
(Pap. Ryl. 11,157,6) e “citação de um livro”
(Mir.Ant. 15).
Paulo emprega o adjetivo eklektos seis vezes
(Rm 8,33; 16,13; Cl 3,12; lTm 5,21; 2Tm
2,10; Tt 1,1). Significa basicamente “eleito”
ou “escolhido” (Platão, Leg. 938,5; Tucídides,
Hist. 6,100), mas também pode significar “seleto”,
“excelente” ou “puro” (LXX Ex 30,23;
Esculápio, Ap. Aet. 9,12).
Paulo emprega essas várias palavras de três
modos diferentes que agora precisam ser considerados:
a eleição dos anjos*, a eleição de pessoas
e a eleição de Israel*.
2.2. A eleição dos anjos. Em 1 Timóteo
5,21, lemos a respeito dos anjos eleitos. Paulo
nada mais diz a respeito, por isso é difícil determinar
o sentido exato. Poderia refletir a idéia de
que alguns anjos abandonaram Deus, enquanto
outros (i.e., os eleitos) não o fizeram. Ou poderia
significar que, de uma forma indefinível,
alguns anjos são “escolhidos”, isto é, superiores
a outros anjos.
2.3. A eleição de pessoas. Paulo fala da eleição
de pessoas, quer de grupos de indivíduos,
sem dúvida sinônimo da Igreja* (Rm 8,33; Ef
1,4; Cl 3,12; lTs 1,4; 2Tm 2,10; Tt 1,1), quer
de um único indivíduo (Rufo, Rm 16,13). Há
duas passagens em que Paulo explica essa idéia:
Romanos 8,28-39 e Efésios 1,3-5.
2.3.1. Romanos 8,28-39. Aqui Paulo aborda
a questão da fidelidade de Deus. Dezessete coisas
hostis e destrutivas são relacionadas e nenhuma
delas (nem todas elas juntas) separa os eleitos
(Rm 8,33; “chamados”, Rm 8,28) do amor
de Cristo (Rm 8,35; “do amor de Deus manifestado
em Jesus Cristo”, Rm 8,39). A razão disso
é que ninguém pode acusar os eleitos de Deus,
pois é Deus que os justifica (Rm 8,34) e, se Deus
os justifica e é por eles, quem será contra eles?
(Rm 8,31). O complexo raciocínio teológico por
trás disso está resumido em uma lista quase simplificada
demais em Romanos 8,29-30. Os que
Deus de antemão conheceu também foram predestinados
a ser conforme Cristo. A fim de assegurar
que isso acontecesse, Deus os chamou,
justificou (ver Justificação) e glorificou (ver
Glória, glorificação). Embora sua glorificação
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ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO J 1
seja futura, porque é “em Cristo” e Cristo já
está glorificado, Paulo falou do fato de serem
glorificados como uma certeza. Por causa disso,
ninguém pode culpar os eleitos de Deus.
Eles já foram glorificados em Cristo, mesmo
que essa glorificação, considerada historicamente,
esteja no futuro como a esperança de
salvação*. Para os que estão em Cristo, esse é
um fato consumado.
2.3.2. Efésios 1,3-5. Aqui, a idéia de eleição
está qualificada de quatro maneiras. É descrita
como sendo 1) “em Cristo”*, 2) supratemporal
(“antes da fundação do mundo”), 3) redentora
e moral (“para sermos santos e irrepreensíveis
sob o seu olhar”) e 4) um ato de amor. A idéia
de predestinação entra em Efésios 1,5 e parece
ser sinônimo da eleição mencionada no versículo
anterior. A meta da predestinação é a
adoção* na família de Deus.
Aos olhos do mundo*, pensar que Deus escolheria
um povo tão sem importância como
eram os primeiros fiéis tomava a idéia ridícula.
Mas, segundo Paulo, Deus elegeu, na verdade, o
que é loucura no mundo, o que é fraco no mundo,
o que é vil no mundo, o que é desprezado,
aquilo que não é, para confundir os sábios, o que
é forte e o que é (ICor 1,27-28). O desígnio de
Deus ao fazer isso é ser reconhecido como Deus e
fazer com que aquele que se orgulha, orgulhe-se
nele (ICor 1,29-31). Aqui, a eleição é considerada
ato intencional de Deus dirigido ao fim moral
de manter o orgulho dos leitores sob controle.
Os coríntios são convocados a examinar seu chamado:
entre eles não havia muitos sábios, poderosos
ou de família distinta, principalmente porque
o meio que Deus escolheu para efetuar seu
chamado e eleição, a saber, a pregação da cruz*,
era desprezado e rejeitado no mundo (1 Cor 1,1821).
Para os que crêem (ICor 1,21), que são os
chamados (ICor 1,24), que na humildade reconhecem
Cristo como Senhor*, Cristo se toma
sabedoria*, justiça*, santificação e redenção*
(ICor 1,30) — poder* e sabedoria de Deus
(ICor 1,24). É possível que esses versículos se
refiram de modo geral mais à pregação do evangelho*,
que parece fraqueza (ver Fraqueza) e loucura
para o mundo, do que aos indivíduos que
creram e, nesse caso, há outra categoria de emprego
paulino para eleição. Essa categoria é: “A
eleição (escolha) da mensagem de salvação pregada
por Deus para oferecer salvação ao mundo”.
Resumindo tudo isso, para Paulo, eleição
significa que Deus, como ato de seu amor, escolheu
eternamente um grupo de indivíduos em
Cristo para serem santos e sem culpa. Isso provocou
sua adoção* na família de Deus, segundo
um plano predeterminado que incluía seu chamado,
justificação e glorificação. Porque foi
Deus quem efetuou esse plano, sendo a justificação
a chave evidente para entendê-lo, ninguém
consegue fazer uma acusação definitivamente
prejudicial contra os fiéis e nada nem ninguém
consegue separá-los do Deus de amor que iniciou
o plano e vai, com certeza, concluí-lo.
2.4. A eleição de Israel. Paulo fala especificamente
da eleição de Israel* em Romanos
9,11; 11,5.7.28. Em Romanos 9-11, Paulo procura
lidar com a questão do lugar de Israel no
plano de Deus. Ele conhecia muito bem o ensinamento
do AT a respeito da escolha de Israel
por Deus e sabia que isso abrangia toda a sua
existência. Deus escolheu Israel para fazer dele
sua parte pessoal (Dt 7,6; 14,2). Escolheu os que
deviam ser sacerdotes entre eles (Dt 18,5; 21,5),
quem devia ser rei (ISm 17,7-13; 2Sm 21,6;
1 Rs 8,16) e a cidade onde deviam morar (lRs
14,21; 2Cr 6,6). Eles eram, de fato, seus eleitos
(SI 105,6.43). Portanto, não há nenhuma novidade
no fato de Paulo falar da eleição de Israel.
A novidade é Paulo analisar o desígnio de
Deus na eleição de Israel e identificar a essência
do desígnio de Deus em sua misericórdia
(Rm 9,16) e independente das obras de Israel
(Rm 9,11). A partir daí, Paulo passa à idéia
maior que os gentios* estavam incluídos desde o
início e que Israel só era Israel quando realizava
o desígnio último de Deus (já sugerido em Is
56,1-8). Assim, a promessa de Deus a Israel foi
feita a todos que se qualificavam como Israel, o
que incluía os gentios. Contudo, no tempo de
Paulo ainda havia um Israel — um resto escolhido
pela graça (Rm 11,5) — que experimentava
a graça divina. Mas toda a complexa história de
Israel é um mistério que só se elucidará no futuro
quando “todo o Israel será salvo” (Rm 11,26).
Os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis
e Israel é amado por Deus por causa dos “pais”
(i.e., os patriarcas, Rm 11,28-29).
ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO
ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO
A essência da dificuldade paulina é ele querer
dizer que a eleição de Israel assegurava que
ele ficaria de pé para sempre e, contudo, estava
agora sendo escolhido. Paulo soluciona isso,
descobrindo um sentido mais profundo para a
eleição no desígnio de Deus, descobrindo Israel
dentro de Israel, mencionando a si mesmo como
um israelita salvo e proclamando a futura redenção
de Israel. (Ver uma análise interessante da
descrença de Israel em Volf, 161-195. Ver em
Wright a revisão da teologia paulina sob a tese
de que, por sua cristologia e sua pneumatologia,
Paulo redefiniu a doutrina judaica da eleição.)
3. A predestinação de Deus
3.1. O vocabulário da predestinação. Paulo usa
o verboproorizõ cinco vezes (Rm 8,29.30; ICor
2,7; Ef 1,5.11) com o sentido básico de “determinar
de antemão” ou “predeterminar”. O verbo não
se encontra na LXX e é raro no grego secular (se
existente) antes da Era Cristã. Proginõskõ também
tem fortes implicações de predestinação e Paulo
o emprega em Romanos 8,29 e 11,2. Há quem sugira
que proorizõ e proginõskõ são praticamente
sinônimos (ver Volf, 9; ver Presciência).
3.2. A sabedoria de Deus escondida predestinada.
Em 1 Coríntios 2,7, Paulo fala de uma
sabedoria* misteriosa, escondida, que foi predestinada
para a glória dos fiéis. Essa sabedoria
é todo o plano de salvação que era desconhecido
dos príncipes deste mundo*, que, se o tivessem
conhecido, teriam tentado frustrá-lo (ICor 2,8;
ver Autoridades e poderes). Era o desígnio eterno
de Deus (eterno porque Deus é eterno) efetuar
a salvação por meio da morte* de Cristo. Era divinamente
sábio, porque a morte de Cristo satisfez
o amor e a justiça de Deus ao mesmo tempo,
rompeu o poder do mal, transferiu os fiéis para
o Reino* de Deus e, em última instância, salvou-
os. Deus determinou que isso fosse assim.
3.3. Pessoas predestinadas a serem como
Cristo. De modo semelhante, Paulo fala da predestinação
de pessoas por Deus para serem
conformes à imagem de Cristo (Rm 8,29) e
adotadas na família de Deus (Ef 1,5). Isso foi
feito de acordo com o projeto de sua vontade
(Ef 1,11) e “em” (Ef 1,11) ou “por” (Ef 1,5)
Cristo. Em Efésios 1,4, Paulo faz um paralelo
dessa ordenação divina com a eleição e a define
como “antes da fundação do mundo”. Em Romanos
8,29, o ato de predestinação parece seguir-
se ao de presciência, sendo o chamado
conseqüência da predestinação. Em Efésios
1,11, a presciência não é mencionada, mas o
chamado se segue à predestinação e está de
acordo com o projeto da vontade de Deus
(“para o louvor da sua glória”, Ef 1,5).
4. Relato resumido de eleição e predestinação
Em suma, Paulo ensina que, em todas as suas
relações com o mundo criado, Deus opera de
acordo com um plano predeterminado, tão eterno
quanto ele mesmo (mas não separado de si
mesmo nem de Cristo — o eleito por excelência),
de um modo tal que seu ser interior e sua
boa vontade divina sejam satisfeitos. Esse plano
tem meta definida: resumir todas as coisas em
Cristo (Ef 1,10). Isso abrange objetos, meios e
fins. Os objetos incluem anjos, seres humanos
e Israel; os meios incluem a pessoa e a obra de
Cristo e a proclamação do Evangelho; os fins
são completamente redentores, quer para Israel,
quer para os fiéis (e, é de presumir, para os anjos,
seja o que for que isso signifique). O fim
último é o louvor da glória de Deus (Ef 1,5.11).
Com respeito aos seres humanos, é importante
enfatizar que Paulo fala da eleição e salvação
de pecadores (Rm 5,6.8), isto é, ele une meio e
fim. A boa nova do Evangelho é que os seres
humanos não precisam se esforçar para obter a
graça divina (na verdade, não podem). A graça
divina é, antes, concedida gratuitamente (Rm
3,24). Isso exclui o orgulho humano e resulta
no eterno louvor da bondade divina.
5. Considerações finais quanto a eleição e
predestinação
Paulo estava ciente de que as doutrinas de eleição
e predestinação tinham alguns elementos
problemáticos e, embora nunca tratasse deles
de modo sistemático, em suas cartas ele abordou
as dificuldades mais proeminentes: integridade
da parte de Deus e responsabilidade ou
liberdade* humana.
5.1. O problema da integridade divina.
Para Paulo é axiomático que Deus é íntegro e
nunca faz nada que demonstre parcialidade
(Rm 2,11; Ef 6,9; Cl 3,25). Conseqüentemente,
ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO
ELEMENTOS LITÚRQICQS
eleição não significa que algumas pessoas não
alcançam Deus para a salvação, nem que os que
são eleitos sejam escolhidos com base em alguma
virtude que possuem. De fato, a razão fundamental
de Paulo desenvolver a doutrina da
salvação neste sentido é, precisamente, excluir
todo orgulho ou imaginação de que a eleição se
baseava em obras (ver Obras da lei) ou na virtude.
Na verdade, Deus não seria injusto se não
elegesse ninguém, porque todos merecem o
julgamento* divino igualmente devido a seus
pecados*. Assim, se há injustiça aparente nesta
doutrina, ela é só aparente, não real. Além disso,
Paulo ensinou que a graça de Deus que traz a
salvação se manifestou para todos (Tt 2,11) e
ele certamente concordaria com Pedro: “O Senhor.
.. não quer que alguns se percam, mas que
todos cheguem à conversão” (2Pd 3,9). Se as
pessoas não se salvam, a culpa não é de Deus.
5.2. O problema da responsabilidade humana.
Se um detrator cínico perguntar a Paulo:
“De que Deus se queixa ainda? Pois, afinal,
quem resistiria à sua vontade?”. Paulo responderia
com a mesma rispidez: “Quem és tu, ó
homem, para entrar em contestação com Deus?
Acaso dirá a obra ao artífice: ‘Por que me fizeste
assim?’” (Rm 9,19-21). Para os que entendem
Deus tão mal a ponto de imaginar que
ele atua arbitrariamente e sem nenhuma base
moral, que essa resposta baste. Mas Paulo sabia
muito bem que eleição e predestinação incluíam
a responsabilidade humana.
O fato de usar Faraó como exemplo é característico
(Rm 9,16-17). Paulo sabia que o AT falou
não só que Deus endureceu o coração de Faraó
(Ex4,21; 7,3.4.13; 9,12.15-17.34-35; 10,1.20.27;
11,9.10), mas também que Faraó endureceu o
próprio coração (Ex 8,15.28; 9,34; ISm 6,6),
desse modo tomando-o responsável pelos pecados
que cometeu. É fundamental para o pensamento
bíblico que Deus exercesse sua vontade
em e pelos atos dos seres humanos de tal modo
que sua vontade fosse feita e, contudo, a vontade
humana não fosse perturbada, coagida nem ignorada.
(Ver, e.g., Pr 16,1.4.9.33. Essa idéia também
se encontra no pensamento rabínico, e.g., Pirqe
’Abot 3,19, “Tudo é previsto e o livre-arbítrio é
dado e o mundo é julgado pela bondade”, que
data de pouco depois da época de Paulo.)
Paulo ressalta a liberdade soberana de Deus
a fim de silenciar a orgulhosa rebelião humana
contra Deus, não para fazê-lo parecer injusto e
despótico. É concebível que Paulo argumentasse
que não precisamos necessariamente saber
como Deus exerce sua vontade em e pelos atos
responsáveis de nossa vontade, e em nenhum
lugar Paulo discute isso. Basta saber que é o amoroso
e benevolente Deus e Pai do Senhor Jesus
Cristo que chama para si os mortais, pecadores
que eles são, e que todo aquele que crê tem certeza
da salvação. A salvação não depende de
nenhum mérito que os seres humanos possuam,
mas da graça de eleição de Deus, que escolheu
os fiéis em Cristo antes da fundação do mundo.
Ver também A po s t a s ia , a po sta ta r, p e r s e v
e r a n ç a ; C h a m a r , c h a m a m e n t o ; P r e s c iê n c ia
d iv in a ; F u t il id a d e ; D e u s ; I s r a e l .
b ib l io g r a f ia : D. A. Carson. Divine Sovereignty
and Human Responsibility. Atlanta, John Knox,
1980; L. Coenen. “Elect, Choose”. NIDNTT
1, 533-543; C. E. B. Cranfield. A Commentary
on Romans. ICC, Edinburgh, T. & T. Clark,
1975, 1979, 2 vols.; F. Davidson. Pauline Predestination.
London, Tyndale, 1946; J. D. G.
Dunn. Romans. WBC 38, Dallas, Word, 1988;
J. Eckert. “êKÃEyovai”. EDNT 1, 416-417;
Idem. “ ê K À E K T Ó ç ” . EDNT 1,417-419; K.
Grayston. “The Doctrine of Election in Rm
8:28-30”. SE 2, 1964, 574-583; A. T. Lincoln.
Ephesians. WBC 42, Dallas, Word, 1990; H.
H. Rowley. The Biblical Doctrine o f Election.
1950; K. L. Schmidt. “npoopíÇoS’. TDNT V,
456; G. Schrenk & G. Quell. “èxÁéyonar.
TDNT TV, 144-192; N. Turner. Christian Words.
Nashville, Nelson, 1981, 127-134; J. M. Gundry
Volf. Paul and Perseverance. Louisville,
Westminster/John Knox, 1991; N. T. Wright.
The Climax o f the Covenant. Minneapolis, Fortress,
1992.
W . A . E lw el l

 

 

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